Título |
Depoimento de Rui Pinto Ricardo
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Entrevistado |
Rui Pinto Ricardo
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Biografia Resumida |
Nasceu em Penamacor, a 4 de Novembro de 1925. Fez o curso de Regente Agrícola, pela Escola de Regentes Agrícolas de Évora (1944), o Curso Complementar das Escolas de Regentes Agrícolas, pela Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra (1944). Licenciatura em Agronomia (Engenharia Agronómica), pelo Instituto Superior de Agronomia (1951). Em 1965 fez a agregação em Agronomia (Ciência do Solo), pelo Instituto Superior de Agronomia. Em 1951-1952 foi assistente da Brigada de Estudos de Pedologia Tropical da Junta de Investigações do Ultramar. Entre 1952 e 1955, Assistente do Instituto Superior de Agronomia. De 1955 a 1964 foi Investigador-Pedologista da Junta de Investigação do Ultramar. Durante os anos de 1964 a 1968 foi Professor Extraordinário do Instituto Superior de Agronomia e de 1968 a 1995 Professor Catedrático do Instituto Superior de Agronomia. Tanto na Junta de Investigações do Ultramar como no Instituto Superior de Agronomia sempre se dedicou a actividades de investigação tendo desenvolvido várias linhas de trabalho no âmbito da Ciência do Solo, sobretudo no que respeita à Química e Tipologia do Solo, Pedogénese e Taxonomia Pedológica. Semelhante actividade determinou a publicação de numerosos trabalhos em revistas portuguesas e estrangeiras, assim como a apresentação de algumas comunicações a reuniões científicas nacionais e internacionais.
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Resumo |
ACTD/MO/RPR1 Rui Pinto Ricardo fala das origens familiares, do percurso de estudante na Escola de Regentes Agrícolas de Évora e do ambiente de praxe. Refere a sua familiaridade com "o campo", pelas vivências que teve na juventude, o que terá determinado, mais tarde, a escolha do curso de engenharia agronómica. Fala da história dos terrenos daquela Escola, dos latifúndios circundantes e do regime curricular instituído. Refere os custos da frequência, em regime de internato, na Escola Agrícola, relacionando-os com a economia familiar e o trajeto profissional do pai. Atribui o início do estudo dos solos ao Professor Joaquim Botelho da Costa que foi encarregado de orientar o estudo dos solos no âmbito da JCI - Junta de Colonização Interna [criada em 1936]. Menciona a prospeção geral de solos planálticos de Angola, em 1946, realizada pelos Professores Botelho da Costa e Ário Lobo Azevedo, ao abrigo de um subsídio da Junta de Exportações dos Cereais das Colónias [criada por decreto-lei nº28:889, de 5 de Agosto de 1938]. Às amostras recolhidas durante o trabalho fizeram-se análises químicas com a colaboração do Professor Valente de Almeida. Ainda enquanto aluno do curso de engenharia agronómica e no contexto da JCI, realizou estudos de solos no Colonato de Santo Isidro de Pegões. Finalizado o curso em 1949, fez o estágio sobre a matéria orgânica das "terras negras de Angola". Fala da estrutura curricular do curso de engenharia agronómica do Instituto Superior de Agronomia e dos professores que mais o marcaram, como os casos de Valente de Almeida, Joaquim Botelho da Costa, Ário Lobo Azevedo, Eugénio Queirós de Castro Caldas, Henrique Teixeira de Queirós de Barros. As vivências no associativismo académico, cindido entre o grupo da esquerda, a que pertencia, e o grupo da direita, são também mencionadas. Pinto Ricardo destaca também o gosto que encontrou em fazer trabalho de campo em meio natural, em Angola, e descreve o modo como as populações locais praticavam agricultura nas "nacas". Já quanto ao estudo dos solos na ilha da Madeira, denota as dificuldades encontradas em fazer as covas para ver os perfis, pelos obstáculos que as pessoas criavam. Descreve o seu trajeto durante o serviço militar obrigatório. ACTD/MO/RPR2 Visando a colonização agrícola de Angola, a Brigada de Estudos de Pedologia Tropical é criada em 1951 e subsidiada pela Junta de Investigações Coloniais. Pinto Ricardo relata como foi organizada a 1ª campanha da Brigada, na zona do Capelongo: o equipamento técnico e o pessoal de apoio necessário à prossecução dos trabalhos. Desta investigação resultou a carta de aptidão agrícola do Capelongo, margem do Rio Cunene, cujos solos não eram de grande qualidade pela presença acentuada de laterite. Estes estudos inseriram-se numa política de colonização agrícola de Angola que o Subsecretário de Estado do Ultramar, António Trigo de Morais acompanhava no terreno e que continuaram a ser realizados em 1952-53, sob a designação de Missão de Estudos de Hidráulica Agrícola. Proposta e chefiada pelo Professor Botelho da Costa, a Missão de Pedologia de Angola, criada em 1953, foi planeada para se trabalhar por Distritos, o primeiro dos quais foi o da Huíla, em 1954 e 1955, depois o do Huambo, em 1956. Descreve as dificuldades do trabalho de campo no período do "cacimbo" e as metodologias criadas pela equipa e seguidas no estudo dos solos. Faz referência à "caixa do pedologista" criada com o seu colega de equipa, Edmundo Pereira Cardoso Franco. Faz também o relato das precauções tomadas antes e durante as viagens no território com vista a evitar problemas nos trajetos; os suplementos de combustível para as carrinhas eram fundamentais, já que os trajetos contavam centenas de quilómetros. Também as doenças tropicais eram uma preocupação durante o trabalho de campo; a mosca do sono, o paludismo e as "bitacaias", que se introduziam sob as unhas dos pés e podiam degenerar em infeções, deviam ser evitadas. Rui Pinto Ricardo refere que os salários mais altos, auferidos durante as missões permitiam equilibrar a economia familiar. Descreve como articulava a prática científica com a docência no Instituto Superior de Agronomia, a progressão na carreira como docente e o seu rigor e exigência na transmissão dos conhecimentos aos alunos. ACTD/MO/RPR3 Na sua atividade docente, Pinto Ricardo refere que transmitiu aos estudantes a importância do estudo dos solos em Angola, um capital valioso que ficaria para a posteridade do território, já como país independente. Distingue dois tipos de trabalho em Angola e Moçambique com vista à realização de cartas gerais e de pormenor. Define a formação do solo com base em 5 fatores: clima, rocha, relevo, tempo e ação humana, constituindo estes os fatores que integravam as cartas compostas que eram executadas pela equipa. Indica que as cartas de pormenor eram realizadas a pé e apoiadas pela fotografia aérea (caso do Capelongo). Na execução das cartas gerais, refere que o trabalho era feito de carrinha, com registos no caderno de campo da vegetação, relevo, rochas, etc. Descreve como se processava um dia de trabalho de campo e da importância de uma figura que integrava a equipa – o “ajudante de carrinha”; a esse propósito relata um episódio ocorrido num percurso, na Huíla, originado pela falta de gasolina. Depois do trabalho de campo, geralmente ao domingo, faziam trabalho de gabinete, lançando numa base topográfica os dados recolhidos durante os percursos. Chegados à metrópole, reuniam os dados, estabeleciam unidades e integravam-nas na carta topográfica. Pinto Ricardo descreve a metodologia de trabalho que incluía trabalho analítico, até à obtenção da carta geral de solos de Angola. As amostras de solos eram guardadas em sacos de pano com a devida identificação e depois analisadas em laboratório; a “terra fina”, menor que 2mm, era a fração analisada e sujeita a vários testes, entre os quais a análise de cor através da Munsell Soil Color Charts. Abertas as covas no terreno, descreve como se procedia à observação e registo do perfil do solo, e como em “barraquinha de campanha” conheceu todo o território angolano. Durante o período da guerrilha, com início em 1961, afirma que não deixaram de ir para o campo e que receberam armas para proteção da equipa; em tais circunstâncias, fazia-se o patrulhamento do acampamento. Pinto Ricardo defende que era espectável a independência do território e que estava a trabalhar “para o futuro de Angola”, com toda a importância que atribui à Missão de Pedologia de Angola e respetivo contributo para o conhecimento dos solos tropicais. Na sequência do desconhecimento do solo, menciona estações agrícolas mal instaladas em Angola. Em oposição, dá o exemplo do Colonato da Cela, cujo conhecimento do solo determinou a sua instalação. Refere o estudo pormenorizado dos solos, no âmbito da Brigada de Estudos do Caminho-de-Ferro de Moçâmedes, destinado à instalação de população. ACTD/MO/RPR4 Rui Pinto Ricardo fala sobre a investigação dos solos em Angola, aplicada à indústria açucareira. Refere o trabalho da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (MEAU) e os milhares de amostras que a MPA analisou em laboratório. Define "perfil gigante" e um episódio associado à observação e recolha desse tipo de perfil e de um outro, ferralítico, em que se descobriu uma bola de grês, datada posteriormente do Período Acheulense. Faz a descrição das técnicas empregues na recolha dos monolitos no terreno e o necessário tratamento para preservação futura. O Engenheiro Milho da Conceição era considerado o especialista na recolha de monolitos, trabalho difícil e delicado de executar; defende que os monolitos são fundamentais no ensino do solo pela observação e análise que se pode realizar em contexto de aulas práticas. No quadro de uma reforma do ensino em 1952, impulsionada por aqueles que Pinto Ricardo considera seus mestres, os professores Botelho da Costa e Valente de Almeida, é criada a cadeira de Pedologia e Conservação do Solo. Sobre a temática da destruição do solo, indica o mau exemplo da política seguida para o Baixo Alentejo durante o Estado Novo, em que se praticou a cultura do trigo sem se atender à conservação do solo. O uso da fotografia era corrente no registo da paisagem e dos perfis. Várias análises ao solo eram realizadas, nomeadamente a granulometria, a proporção de elementos grosseiros, determinação do carbono da matéria orgânica e do complexo de troca, capacidade de troca total, grau de saturação, estudos dos minerais na argila e das frações grosseiras da areia, determinação do pH em água e em cloreto de potássio. Outros estudos foram realizados, entre os quais, medições da infiltração de água nos solos, estudos de micromorfologia e outros. A participação em congressos resultava num “debate vivo” com investigadores de todo o mundo e a cooperação com organismos internacionais traduzia-se no reconhecimento da investigação nacional dos solos. A Junta de Investigações do Ultramar contratava docentes do Instituto Superior de Agronomia que passavam a integrar as missões científicas nos territórios ultramarinos, o que, afirma Pinto Ricardo, permitia ter uma vida economicamente mais “desafogada”. Depois da independência de Angola ainda se trabalhou no território. Pinto Ricardo refere os trabalhos de pedologia na Madeira, Porto Santo, Açores (S. Miguel e Santa Maria), no Continente, e a carta detalhada da Escola Superior Agrária de Castelo Branco, os estudos de solos em Cabo Verde e Guiné-Bissau (Lagoas de Cufada), nos anos 80. Aponta o que falta publicar para concluir a carta geral dos solos de Angola. Discorda da extinção do Centro de Pedologia do Instituto de Investigação Científica Tropical, centro que, em sua opinião, deu prestígio ao país. ACTD/MO/RPR5 Descreve as práticas agrícolas das populações locais de Angola e como era efetuado o recrutamento do pessoal de apoio à Missão de Pedologia, o seu pagamento e fornecimento de alimentação. Menciona a reforma da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, no período em que Joaquim Moreira da Silva Cunha foi Ministro do Ultramar (1965-1973), e procedeu à extinção das missões com a consequente integração em centros, altura em que a Missão de Pedologia passa a designar-se Centro de Pedologia; indica as suas atividades e objetivos. Já como chefe daquela Missão, em 1963, Pinto Ricardo apostou na formação de alunos da Escola de Regentes Agrícolas do Tchivinguiro que colaboraram nos estudos dos solos com o apoio de um subsídio que recebiam. Faz referência aos chefes da Missão de Pedologia, Professores Botelho da Costa e Ário Azevedo, considerando-os de importância basilar no início e desenvolvimento do estudo dos solos.
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Local |
Lisboa
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Data |
2013-08-02
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Língua |
Português
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Palavras-chave / Keywords |
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Tipo de recurso |
moving image
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Suporte |
MiniDV
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Duração |
00:40':03"; 00:37':14''; 00:46':04''; 00:40':08''; 00:13':47''
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Entrevistador |
Cláudia Castelo
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Registo e Edição |
Rogério Abreu
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Copyright |
IICT
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Proveniência |
Projecto Património científico: colecções e memórias
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Instituição Detentora |
IICT
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