Missão Antropológica e Etnológica da Guiné
Âmbito e Conteúdo: Colecção fotográfica resultante da 1ª e 2ª campanha de trabalhos de campo da Missão Antropológica e Etnológica da Guiné (MAEG).
Inclui maioritariamente registos fotográficos das populações locais, suas habitações, hábitos, cultura, subsistência e espiritualidade. A esmagadora maioria dos registos constituem retratos de frente e perfil dos indivíduos analisados segundo o propósito antropobiológico da missão.
Em função dos aspectos geográficos a cada etapa da missão encontramos registos dos grandes centros urbanos, pequenas localidades ou tabancas (essencialmente orientadas pela propagação familiar), aspectos da ruralidade e meio natural, presença dos portugueses europeus neste território e respectiva intervenção local, assim como algumas manifestações no quotidiano das populações retratadas em cada área percorrida pelos investigadores nestes territórios.
De um modo geral, os registos visam corresponder o percurso dos elementos da missão com o trabalho de recolha de medições antropométricas e o contacto com as autoridades locais para o efeito.
Destacam-se os diversos registos da estação arqueológica da Nhampasseré perto de Gabú como um dos principais motivos para a participação portuguesa nas Conferências Internacionais dos Africanistas Ocidentais criadas pelo Instituto Francês da África Negra. Um dos documentos desta colecção consiste numa sequência de imagens referente à 2ª conferência, realizada em Bissau em Dezembro de 1947, cerca de 6 meses depois da conclusão da 2ª e última Campanha da missão.
Proveniência: Instituto de Antropobiologia, Universidade do Porto
Dimensão e suporte: 1692 Negativos originais em nitrato de celulose 6x6cm
4638 Provas em papel de revelação de gelatina e prata (9x12cm)
713 Provas de contacto em papel de revelação de gelatina e prata (6x6cm)
110 Provas em papel de revelação de gelatina e prata (7x9cm)
792 Cartões/fichas de perfil, com provas coladas
81 Dossiers dos quais 62 contêm medições antropométricas, restantes vazios. Numerados de 1 a 62
5 maços de documentação textual (cerca de 3300 fólios)
História custodial: A Missão Antropológica e Etnológica da Guiné (MAEG) é criada pela Portaria nº. 11 263, de 08 de Fevereiro de 1946, cujas competências consistiram na realização de investigações antropológicas, etnológicas e pré-históricas, de estudos psicotécnicos e experimentais, o estudo sobre as instituições tradicionais e direito consuetudinário e aproveitamento dos materiais recolhidos para posteriores trabalhos de gabinete. Constituída por um chefe, por um ou mais adjuntos e ajudantes, pessoal dos quadros e serviços do território guineense que fosse entendido como necessário, bem como pelo pessoal europeu e dito indígena imprescindível.
Neste sentido, o chefe da MAEG, sob a orientação de Mendes Correia, foi Amílcar de Magalhães Mateus, seguido de um adjunto, Emília de Oliveira Mateus e um ajudante, António Marques de Almeida Júnior. Todos funcionários da Universidade do Porto, associados às áreas da antropologia física, biologia e zoologia, sendo Mateus 1º assistente da Faculdade de Ciências do Porto, zoólogo dedicado à antropologia física; Emília Mateus era licenciada em Ciências Histórico-Naturais; e Marques de Almeida Júnior um funcionário do Instituto de Antropologia do Porto.
Esta missão foi constituída por duas campanhas, sendo que a primeira durou 130 dias e incidiu exclusivamente no Arquipélago dos Bijagós. De acordo com o Decreto-Lei e Portaria mencionados a abordagem da antropologia desta época estava centrada na classificação antropológica dos nativos em função das suas características corporais e possibilidades psicofísicas, embora também com enfase nos elementos mais associados à etnologia e estudo rudimentar do meio. Deste modo, a MAEG adquiriu alguns objectos etnográficos para além dos achados arqueológicos encontrados nas respectivas prospecções. A documentação dos Serviços de Secretariado do IICT, que apoiaram o desempenho da missão, assim como os relatórios da missão, mostram claramente que foi possível obter os referidos objectos através de compras às populações locais.
O projecto desta missão previa observações em antropologia física, etnografia, caracteres psicológicos e psicofisiológicos, inquéritos sobre o estado sanitário, alimentação, condições económicas e morais e recolha de elementos linguísticos e vocabulários entre as populações nativas.
Estavam previstas a 3º e 4ª Campanhas, entre 1947 e 1948, porém por falta de financiamento não foi possível executar as mesmas. O chefe da missão Amílcar Mateus acabou por regressar ao território da Guiné-Bissau, em Dezembro de 1947, apenas no âmbito das suas obrigações como membro da comissão organizadora da 2ª Conferência dos Africanistas Ocidentais onde foram reveladas algumas das descobertas da escavação em Nhampasseré, fruto dos trabalhos da missão durante a 2ª Campanha uns meses antes.
HISTÓRIA CUSTODIAL E ARQUIVÍSTICA
Espólio proveniente do Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Foi transferido em 2007 para o ex-Centro de Pré-História e Arqueologia do IICT por se tratar de um trabalho realizado no âmbito de uma Missão da Junta de Missões Geográficas e Investigações Coloniais.
Transferido em 2014 do anexo de Pré-História e Arqueologia.
Segundo o Decreto nº. 26 180, de 07 de Janeiro de 1936, a então Junta das Missões Geográficas e Investigações Científicas (JMGIC) tinha a responsabilidade de orientar, promover e subsidiar, na metrópole, os trabalhos de gabinete e respectivas publicações a partir dos dados recolhidos no âmbito das suas missões científicas.
Neste sentido, aquando da sua chegada à capital portuguesa, em 24 de Agosto de 1946, os membros da missão permaneceram durante três meses nas instalações da JMGIC, até partirem novamente para a Guiné a 30 de Novembro de 1946. De acordo com Amílcar Mateus e os relatórios posteriores a 1947, durante este período, foram realizados os referidos trabalhos de gabinete a partir dos dados recolhidos até então. Assim, concluiu-se que entre a 1ª e 2ª Campanha, a documentação, nomeadamente a fotográfica criada permaneceu em Lisboa.
Porém, aquando do embarque a 30 de Maio de 1947 e posterior chegada a 09 de Junho do mesmo ano, Amílcar Mateus escreve no Relatório da Actividade da Missão Antropológica e Etnológica da Guiné durante o ano de 1948 que por decisão superior, a desejada 3ª Campanha não irá ser realizada e que por isso os seus membros voltaram para o Porto, onde foram conduzidos os trabalhos de gabinete. A documentação produzida no âmbito da missão foi então instalada no Instituto de Investigação Científica de Antropologia - Instituto de Antropologia, da Faculdade de Ciências do Porto.
Concluiu-se assim que a documentação foi transferida da sede da JMGIC, em Lisboa, para o Instituto de Antropologia, no Porto, logo em 1948.
No seguimento desta transferência, Amílcar Mateus afirma que o propósito dos referidos trabalhos de gabinete, entre estes os cálculos de novos índices a partir das medições antropométricas, era a organização de uma publicação que abarcasse os assuntos abordados durante a missão à Guiné.
A partir de 1950, a missão passou a ser constituída por dois membros, o chefe e um ajudante, tendo sido interrompido o contrato com o adjunto do chefe cujas funções cessaram a 19 de Março desse ano. A actividade assentou na continuação dos trabalhos sobre estatística, impressões digitais, fichas psicotécnicas, caracteres descritivos e redacção de trabalhos científicos.
Durante o tempo que permaneceu no Instituto de Antropologia, do Porto, a documentação foi alvo de vários estudos e trabalhos, sob a orientação de Mendes Correia, por parte dos membros da missão que se deslocaram fisicamente ao território guineense, mas também por professores de gabinete. Entre estes destacam-se Leopoldina Paulo, Alfredo Athayde e Maria Helena Galhano.
[A primeira era a 1ª assistente do Instituto de Antropologia do Porto e foi a responsável pelo estudo das impressões dermopapilares dos indivíduos observados; Athayde foi um naturalista, também do Instituto, que já havia colaborado com Mendes Correia na Exposição Colonial, no Porto, em 1934, e que prestou informações e apoio no âmbito dos trabalhos de gabinete; Galhano foi professora de zoologia e antropologia na Universidade do Porto e realizou estudos comparativos entre os indivíduos masculinos da Guiné, Angola e São Tomé.
A Portaria n.º 19 210, de 30 de Maio de 1962 criou na JMGIC/JIU o Centro de Estudos de Antropobiologia em colaboração com o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, que veio substituir o então Centro de Estudos de Etnologia do Ultramar. Nessa mesma portaria, o artigo nº 10 estipula que todos os materiais científicos, equipamento técnico, mobiliário e outros pertences das extintas missões antropológicas e etnológicas da JMGIC deviam ser integrados no Centro de Antropobiologia da mesma, porém este acontecimento não teve qualquer impacto real na documentação.
Somente em 2007 é que a documentação produzida no âmbito desta missão retornou a Lisboa, tendo sido transferida para o ex - Centro de Pré-História e Arqueologia do Instituto de Investigação Científica e Tropical (IICT), onde ficou até 2014, tendo sido transferido no início deste ano para as instalações do Arquivo Histórico Ultramarino, no seguimento da transferência da documentação produzida no âmbito das missões antropológicas de Moçambique e Timor.
Circuito de tutelas: Junta das Missões Geográficas e Investigações Científicas -> Instituto de Antropologia da Universidade do Porto -> Instituto de Arqueologia da Faculdade de Ciências do Porto -> Centro de Pré-História do IICT -> AHU/IICT -> ULisboa/IICT
Datas: 04-1946/05-1947